Cuidar de cachorro não te torna mais preparado para paternidade | Vida de Pai #10

Cachorros são como filhos?

Acho fofo quem diz “meu cachorro é como um filho pra mim”, cuida como se fosse um, dá banho, passeia, compra mimos, deixa até de viajar para não deixar o cão sozinho, contrata adestrador e se esforça para ser o melhor dono possível.

Acho demais as pessoas que escolhem ter bicho e assumem a bronca de se dedicar e cuidar deles pra valer.

Mas não se iluda como eu me iludi, cuidar de cachorro não tem nada a ver com paternidade, maternidade e muito menos com educação e formação de seres humanos.

Ser um bom dono de cão não significa que você vai ser um bom pai e vice-versa.

Clara e Clint.

Tenho um Golden Retriever de 6 anos e uma filha que acabou de completar 1 ano e meio.

Antes da Clara nascer me preocupava demais em ser o melhor dono que o Clint poderia ter, não só no sentido de cuidar bem dele, mas de entender o que realmente importava para um cão ser feliz e saudável.

Li livros e artigos sobre comportamento canino, fiz aulas de adestramento, conversei com especialistas, me dedicava a passear com ele no mínimo quatro vezes ao dia, brincadeiras, visitas regulares ao veterinário e bastante amor.

Me considerava um bom dono e sempre mantive uma relação de muita proximidade e respeito com ele. Algumas pessoas na rua chegaram a me pedir cartão perguntando se eu era adestrador ou se eu podia ensinar o cachorro delas a ser igual ao Clint.

Quando a Nathalia ficou grávida da Clara, eu tinha certeza que tiraria de letra a paternidade, afinal, todo conhecimento que adquiri ao longo dos anos com o Clint certamente me serviria  para ser o melhor pai do mundo.

Só que não.

Eu e o bonitão.

Descobri que as competências que servem para ser um bom dono de cão não servem em (quase) nada para ser um bom pai.

Um simples “não”  com autoridade e firmeza  é o suficiente para o Clint entender o que pode e o que não pode. Não é preciso explicar o motivo, falar com jeitinho ou pensar em técnicas para convencê-lo a fazer o que eu mando.

Brincar de morder e rolar no chão comigo vai ser sempre a brincadeira favorita do Clint.

A comida do Clint eu compro uma vez a cada 20 dias e guardo na área de serviço da minha casa.

 

O Clint dorme em qualquer canto da casa e não precisa de ajuda pra dormir.

Se eu quiser sair para jantar a noite com a minha esposa, é só deixar água e comida pro Clint.

Se eu precisar viajar por alguns dias, qualquer parente, amigo com boa vontade ou um hotelzinho pode ficar com o Clint.

Eu não necessariamente preciso planejar minhas férias em função de um local que aceite cachorro.

Eu faltei no trabalho por causa do Clint duas vezes: quando ele foi atropelado e quando ele foi castrado.

Eu nunca entrei numa briga séria com minha esposa por causa do Clint.

Se eu não estiver num bom dia e não quiser dar bola pro Clint, tudo bem.

O Clint não vai deixar de falar comigo nem me odiar se um dia eu pisar na bola com ele.

O Clint não vai sofrer se um dia eu me divorciar.

Se eu perder meu emprego, o Clint não será a primeira preocupação que virá a minha cabeça.

***

A única pessoa que pode dizer com segurança que tá preparado pra ser pai e aguentar a bronca que vem é quem já é pai.

O resto é papo de caras ingênuos como eu.

 


publicado em 13 de Dezembro de 2016, 14:10
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Rodrigo Cambiaghi

é especialista em mídia programática, monetização de sites e BI. Reveza o tempo entre filha, esposa, cão, trabalho, banda, moto, games, horta de casa, cozinha e a louça que não acaba nunca.


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