segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Grêmio, Cruzeiro e o Flamengo Pós-Copa

Salve, Buteco! Agosto chegou com tudo e o Mais Querido começou sua "maratona azul" de decisões contra Grêmio e Cruzeiro. Por enquanto, dois jogos contra o Grêmio na Arena, sendo um empate muito comemorado pela boa atuação, especialmente na segunda etapa e por ter buscado o resultado nos minutos finais, e uma derrota decepcionante em razão da atuação “irreconhecível”, sucumbindo facilmente perante os reservas do adversário, apesar da maior parte do time ter sido formada por jogadores titulares. O jogo que iniciou essa sequência decisiva aconteceu quarta-feira passada, pela Copa do Brasil, e foi precedido de enorme expectativa. Chamou-me a atenção o destaque dado pela imprensa à diferença de estratégias entre o Flamengo e o Grêmio. Do lado de lá, Renato Gaúcho, que foi atleta profissional de ponta e disputou as competições mais importantes de sua época, tanto por clubes como pela Seleção Brasileira, pregou com convicção a impossibilidade dos atletas disputarem três jogos por semana. Do lado de cá, Barbieri e o Departamento de Futebol do Flamengo não esconderam que apostam na recuperação dos atletas com tecnologia de ponta e preparação física de alto nível. Será que não é falta de convicção para priorizar?

Apesar de achar que ainda é cedo para cravar que existe uma estratégia visivelmente superior à outra, cá do meu canto fico me perguntando se o desgaste psicológico não é ainda pior do que o físico, lembrando que a "maratona azul" ainda está apenas no começo. O certo é que, nesses dois primeiros jogos, a estratégia gremista parece ter saltado à frente, e do lado do Flamengo o Departamento de Futebol no mínimo precisa encontrar a explicação para uma atuação tão ruim como a de sábado. Por sinal, o fato da derrota ter ocorrido logo no jogo que valeu pelo Campeonato Brasileiro deixou a torcida ainda mais desconfiada, pois nessa competição o Flamengo Pós-Copa tem cinco jogos, com duas vitórias, um empate e duas derrotas. É óbvia a queda de rendimento em relação ao primeiro semestre. Não foi à toa que, num curto espaço de três dias, a Nação Rubro-Negra despencou de um estado de confiança e alto-astral para um de frustração e desconfiança.

Procurando explicações para a fraca atuação de sábado, resolvi mergulhar no histórico dos confrontos entre o Flamengo e os dois principais adversários do mês de agosto. Longe de pretender encontrar uma causa única ou definitiva, constatei que alguns aspectos não podem ser ignorados, como explicarei a seguir em relação a cada adversário após a exposição de números dos confrontos diretos em competições oficiais da CBF ou da CONMEBOL, claro que sob o ângulo do Mais Querido.

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Flamengo x Grêmio

Mando de Campo
Competição Oficial (CBF/CONMEBOL)
Total
Brasileiro (Unificado)
Copa do Brasil
Libertadores
Mercosul
Supercopa
Rio de Janeiro


43j. 20v. 14e. 10d.
Maracanã
25j. 14v. 8e. 8d.
6j. 2v. 4e.
2j. 1v. 1d.
1j. 1e.

34j. 17v. 13e. 9d.
Engenhão
2j. 1v. 1e.




2j. 1v. 1e.
Moça Bonita
(Proletário)




1j. 1v.
1j. 1v.
Ilha do Urubu
(Luso-Brasileiro)
1j. 1d.




1j. 1d.
Porto Alegre

41j. 2v. 14e. 22d.
Olímpico
24j. 2v. 8e. 13d.
6j. 2v. 1e. 3d.
2j. 1 e. 1 d.
1j. 1e.
1j. 1e.
34j. 2v. 12e. 17d.
Arena do Grêmio
6j. 1e. 5d.
1j. 1e.



7j. 2e. 5d.
Neutro





5j. 1v. 2e. 2d.
Pacaembu
São Paulo/SP


1j. 1e.



Mário Helênio
Juiz de Fora/MG
1j. 1d.





Ressacada
Florianópolis/SC
1j. 1e.





Mané Garrincha
Brasília/DF
2j. 1v. 1d.






89j. 23v. 30e. 34d.

O Grêmio é uma pedra no sapato do Flamengo desde a primeira metade do Século XX. Para se ter uma ideia, a partir de 1937 até 1969, entre amistosos e competições oficiais, os clubes se enfrentaram oito vezes, com sete vitórias gremistas (quatro delas no Maracanã!) e um empate, no primeiro jogo da história confronto. A partir de 1970 o Flamengo passou a ter melhores resultados, inclusive vencendo no Estádio Olímpico, em amistosos e pelo Campeonato Brasileiro, mas a primeira vitória no Maracanã, pelo Brasileiro, só aconteceu em 1974, na sétima (!) partida disputada no estádio, decidida com um gol do Galinho de Quintino. Aliás, enfrentar o Grêmio nunca foi grande problema para o Galinho. Invertendo o que até então era um histórico de numerosas derrotas, em jogos disputados entre 1973 e 1989 por competições oficiais pelo Flamengo, Zico venceu cinco, empatou quatro e perdeu duas vezes (Brasileiros de 1973 e 1989). É uma pena que os times pouco jogaram na melhor fase da história do Mais Querido. O título brasileiro de 1982 foi o último do fantástico time que venceu a Libertadores e o Mundial em 1981 Uma espécie de canto do cisne. Já as eliminações pela Libertadores em 1983 e 1984, assim como a goleada sofrida pela Copa do Brasil em 1989, ocorreram sem o Galinho de Quintino e com equipes em franca decadência, nos dois primeiros casos, quando Zico se transferiu para a Udinese na Itália, e no último, quando estava prestes a se aposentar e disputava poucas partidas (jogou apenas a ida no Maracanã).

Observando globalmente os números de todos jogos oficiais, é fácil constatar que existe grande equilíbrio nas competições eliminatórias ou tipo “mata-mata”, ainda que, hoje, no saldo, os gaúchos tenham uma classificação a mais. Nelas, o Grêmio é um adversário duríssimo, mas longe de ser um temido algoz. No Rio de Janeiro e especialmente no Maracanã, é sempre um adversário incômodo e tem um número nada desprezível de vitórias, mas ainda que se pondere que o Flamengo poderia ter uma vantagem mais elástica nas vitórias, a supremacia é rubro-negra, com alguma folga. Entretanto, nos jogos disputados pelo Campeonato Brasileiro em Porto Alegre, a “freguesia” rubro-negra, infelizmente, é incontestável. Quando vai à capital gaúcha para jogar pelo Brasileiro, o Flamengo é frequentemente derrotado, e não poucas vezes por dois ou mais gols de diferença. Parece óbvio que o clube historicamente não se prepara para esses jogos da mesma forma que o faz nas competições eliminatórias ou quando joga no Maracanã. É como se descartasse "guerrear" contra o Grêmio em Porto Alegre pelo Brasileiro. Portanto, percebam, semana passada, tanto quarta-feira, como no sábado, vivemos mais dois típicos capítulos dessa história, um pela competição eliminatória (Copa do Brasil), outro pelo Brasileiro.

O Grêmio, mesmo quando tem um time técnico, como o atual, tradicionalmente joga um futebol de forte marcação e muito físico, estilo que historicamente sempre “testou” o “toque de bola” e o estilo ofensivo que sempre caraterizaram a maior parte dos times do Flamengo. Então, não tenho dúvida de que jogo de volta, quarta-feira, dia 15 de agosto, no Maracanã, será duríssimo, seja pelo nível do campeão da Libertadores, seja pela tradição do confronto. Prevejo que, para decidir o jogo de durante os noventa minutos, o Flamengo terá que apresentar um futebol superior ao de quarta-feira passada, na Arena. E se preparem: fora o segundo turno do Brasileiro, não é impossível que os clubes se cruzem novamente em uma eventual final da Libertadores.

Como vocês podem perceber, ainda tem muita água para rolar em 2018 nesse histórico clássico interestadual.

***

Flamengo x Cruzeiro

Mando de Campo
Competição Oficial (CBF/CONMEBOL)
Total
Brasileiro (Unificado)
Copa do Brasil
Copa dos Campeões
Supercopa
Rio de Janeiro

34j. 16v. 9e. 9d.
Maracanã
24j. 11v.5e. 8d.
4j. 1v. 3e.

1j. 1v.

Engenhão
2j. 1v. 1e.




Ilha do Urubu
(Luso-Brasileiro)
1j. 1v.




Raulino de Oliveira
Volta Redonda
2j. 1v. 1d.




Minas Gerais

32j. 8v. 10e. 14d.
Mineirão
Belo Horizonte
24J. 5v. 8e. 11.d.
4j. 1v. 2e. 1d.

1j. 1v.

Independência
Belo Horizonte
1j. 1d.




Parque do Sabiá
Uberlândia
1j. 1d.




Arena do Jacaré
Sete Lagoas
1j. 1v.




Neutro




5j. 2v. 1e. 2d.
Kléber Andrade
Cariacica/ES
2j. 1v. 1d.




Castelão
Fortaleza/CE


1j. 1d.


Almeidão
João Pessoa/PB


1j. 1v.


Rei Pelé
Maceió/AL


1j. 1e.



71j. 26v. 20e. 25d.

Apesar dos números exibirem grande equilíbrio nos jogos oficiais disputados entre Flamengo e Cruzeiro, e mesmo contando as duas derrotas nas finais disputadas pela Copa do Brasil, afirmo sem receio algum que, ao contrário do que ocorre com o Grêmio, o “curso normal” do confronto com os mineiros pende para a predominância rubro-negra. Os períodos de maior número de vitórias cruzeirenses ocorreram em uma das “fases de ouro” do clube, nos anos 70 (4v., sendo três no Maracanã), e na primeira década do Século XXI (16j. 9d., 3e. e 4v.), marcada em sua maior parte como um dos piores períodos da história do futebol do Flamengo, quando havia significativa diferença entre as estruturas profissionais de futebol dos dois clubes. 

Falando das duas decisões, em 2003 o Flamengo brigou para não ser rebaixado para a Série B, enquanto em 2017, apesar de já estar em muito melhor situação, o futebol do clube ainda se encontrava preso a antigos vícios. Ainda assim, após dois empates com a bola rolando, o título só foi para a Toca da Raposa por um curioso detalhe envolvendo o goleiro rubro-negro, prova viva dos vícios aos quais me referi.

Em outras épocas, e estando o Flamengo minimamente estruturado, a tendência sempre foi de equilíbrio, mas pendendo para uma ligeira predominância rubro-negra. Foi assim que, na década de 90, o Mais Querido prevaleceu em dois dos três confrontos eliminatórios (Copa do Brasil e Supercopa x Copa do Brasil) e venceu três dos cinco jogos oficiais disputados no Mineirão, e mais recentemente, em 2013, eliminou da Copa do Brasil (que veio a conquistar) o futuro bicampeão brasileiro.

O Cruzeiro teve bastante sorte por quase não ter enfrentado o Flamengo em sua “fase de ouro” (final dos anos 70 e anos 80), especialmente no auge da “Geração Zico”. A história tem poucos confrontos entre o Flamengo em seus melhores anos e os mineiros.

***

Na sequência, agora é a vez do Cruzeiro, para logo depois voltarmos ao Grêmio. Meu coração de torcedor fica muito mais tranquilo quando o Flamengo enfrenta os mineiros do que os gaúchos. Como se não bastasse, comparando os três times, tenho a impressão de que atualmente os mineiros têm o time menos forte do trio, e, além disso, os três próximos jogos da "maratona azul" serão no Maracanã. Porém, embora seja uma referência importante, a história jamais define o presente e nem muito menos escreve as páginas do futuro. Para voltar à liderança do Brasileiro e seguir nas duas outras competições eliminatórias, o Flamengo terá que jogar ainda mais bola do que vem fazendo no pós-copa do Brasileiro, inclusive do que na quarta-feira passada. Barbieri ajudaria muito se encontrasse jogadas para os centroavantes (Uribe, Dourado e Lincoln) finalizarem, inclusive melhorando o rendimento ofensivo dos laterais. Quem quer disputar três competições precisa fazer por onde. Qual é o sentido em contratar centroavantes de "último toque" e montar um time que não joga nesse estilo?

Porém, erros de planejamento e limitações à parte, acho que também falta uma pitada de vontade de vencer ou, nas palavras de Reinaldo Rueda, falta "guerrear", ainda que me pergunte se é possível e viável "guerrear" nas três competições. Às vezes acho que eles vão levando pra ver aonde tudo isso vai dar. O jeito agora é torcer, pois já anunciaram que o ciclo de contratações está encerrado. Difícil a vida de torcedor. Espero que a Nação saiba separar a disputa eleitoral no clube da paixão pelo Mais Querido.

Por considerar as duas competições esportivamente mais importantes, gostaria de ver priorizados o Brasileiro e a Libertadores, mas tenho a impressão que o Flamengo administrará (times mistos e/ou tirando o pé) o Brasileiro e irá com força total para as duas competições eliminatórias, inclusive pelos altíssimos valores de premiação da Copa do Brasil, na qual, acaso elimine o Grêmio, é provável que o Mais Querido dispute as semifinais contra o Corinthians e a final contra o Palmeiras de Felipão. Vejo-me então forçado a reconhecer que seria épica a conquista desse título e o quanto é difícil priorizar. Só não vale deixar o Brasileiro para trás. Deu pra entender?

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.