Lenovo Vibe K5: quando os números enganam

Smartphone intermediário da Lenovo tem bons números de hardware, mas desempenho decepciona

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

O foco da Lenovo no Brasil parece ser o custo-benefício. Depois de estrear com o Vibe A7010, um smartphone com leitor de impressões digitais e 16 GB de armazenamento, características incomuns em sua faixa de preço, a dona da Motorola trouxe o Vibe K5, um aparelho para competir na concorrida faixa dos intermediários de até mil reais.

Para conquistar os consumidores, os chineses colocaram um hardware atualizado, composto por Snapdragon 616 e 2 GB de RAM, além de uma tela com resolução de 1920×1080 pixels, acima do que estamos acostumados na categoria. Será que o Lenovo Vibe K5 é bom? Eu utilizei o aparelho como smartphone principal por uma semana e conto minhas impressões nos próximos minutos.

Review em vídeo

Design e tela

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Pouco inspirado, o design do Vibe K5 lembra os smartphones de baixo custo da Samsung. A Lenovo apostou no retângulo de cantos arredondados com borda cromada, além de botões capacitivos sem retroiluminação, passando aquela sensação de “mais do mesmo”. A traseira, pelo menos, agrada pela finalização metálica e pelas laterais levemente curvadas, que contribuem com a ergonomia e tornam o aparelho bem confortável de segurar.

Os botões laterais são firmes e passam ótima sensação de solidez com relação à construção. Uma característica não muito comum é a posição do conector Micro USB, localizado na parte superior do aparelho, ao lado da entrada de 3,5 mm para fones de ouvido. Ao remover a tampa traseira, bem encaixada no corpo do Vibe K5, temos acesso ao slot para microSD, duas entradas para chips Micro-SIM e uma bateria removível de 2.750 mAh.

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Assim como no Vibe A7010, houve atenção especial aos alto-falantes, que ostentam a marca da Dolby. Eles não ficam posicionados na parte frontal como no irmão mais caro, o que por vezes abafa o som, mas possuem qualidade tão boa quanto. Ao ativar as otimizações da Dolby via software, fica nítido como o Vibe K5 emite som alto e de qualidade, sem distorcer o áudio.

Só faltou mais cuidado na tela. A resolução de 1920×1080 pixels do painel LCD do Vibe K5, acima dos 1280×720 pixels que as fabricantes costumam colocar nessa faixa de preço, gera boas expectativas. No entanto, ao ligar o aparelho pela primeira vez, o display apresenta cores excessivamente saturadas, estouradas e irreais, lembrando os painéis AMOLED descalibrados de baixa qualidade que encontrávamos há alguns anos. Felizmente, o defeito é corrigível via software, com opções de ajuste de matiz e saturação nas configurações do sistema.

Software

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Com Android 5.1, o Vibe K5 apresenta a personalização da Lenovo, com suporte a temas, gerenciador de arquivos, player de música próprio e ferramentas de compartilhamento e backup de dados. A Lenovo trouxe seu launcher sem bandeja de aplicativos, mas, provavelmente influenciada pelas boas práticas da Motorola, colocou nativamente a opção de trocá-lo para o Google Now Launcher, mais próximo do que estamos acostumados no Android puro e na linha Moto.

A interface é bastante modificada, com forte presença de degradês, ícones coloridos e aplicativos nativos modificados, como o Mensagens, Telefone e até Calculadora, que apresenta botões tridimensionais e uma imitação de visor de calculadora física — ou seja, aquele skeumorfismo que foi abandonado pelas principais fabricantes há dois ou três anos.

Mesmo com várias modificações, algumas de gosto duvidoso, dá para dizer que a Lenovo fez um trabalho razoável no software: no geral, os recursos funcionam como esperado e não há a presença de bloatwares, como aplicativos de segurança ou joguinhos de demonstração, comuns nos aparelhos da Asus, por exemplo. Algumas animações da interface da Lenovo engasgam, mas não a ponto de incomodar.

Câmera

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A gente já sabe: na hora de cortar custos para baratear um smartphone, um dos primeiros componentes afetados é a câmera. Não é diferente no Vibe K5. O aparelho da Lenovo consegue entregar fotos boas em condições ideais de iluminação, mas sofre bastante em ambientes internos e não consegue lidar bem com cenários noturnos. As luzes estouram facilmente, gerando indesejáveis borrões nas imagens, que parecem estar sempre superexpostas.

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Em fotos de cenários internos ou noturnos, o nível de ruído se mantém relativamente bem controlado para um smartphone dessa categoria, mas há falta de definição na imagem. Para evitar mais granulação, o software da Lenovo prioriza muito o aumento do tempo de exposição, deixando o ISO mais baixo. Por isso, é bem difícil tirar fotos de objetos em movimento quando a iluminação não está tão boa.

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Além disso, um grande problema da câmera do Vibe K5 é que o foco é lento e impreciso, principalmente em condições mais desafiadoras. Portanto, antes de realmente conseguir tirar uma foto, você chegará a isto:

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E isto:

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É realmente complicado ter uma câmera boa mantendo um preço acessível: as fabricantes preferem sacrificar o conjunto óptico para investir mais no processador ou armazenamento, o que me agrada bastante, sinceramente — mas ainda falta uma boa opção de câmera para quem não pode gastar muito. De qualquer forma, outros smartphones intermediários, como o Moto G de 3ª geração, embora não ofereçam uma qualidade de imagem tão superior, conseguem lidar melhor em diversos ambientes.

Desempenho

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Snapdragon 616 octa-core de 1,5 GHz, Adreno 405 e 2 GB de RAM. Em teoria, esse conjunto deveria oferecer um bom desempenho dentro da categoria de smartphones intermediários. Infelizmente, não é o que acontece. O smartphone da Lenovo apresenta lentidões em diversas operações, principalmente na alternância de aplicativos e carregamento de jogos, que demoram mais que o normal para ficarem prontos.

Instalar ou atualizar aplicativos pelo Google Play foi uma tarefa extremamente demorada no Vibe K5, mesmo para softwares básicos, como Facebook ou Evernote. Resetei o aparelho, rodei uma bateria de testes para diagnosticar o problema e concluí que o gargalo estava na memória flash. Provavelmente, para cortar custos, os chineses utilizaram um componente de baixa qualidade: um benchmark mostrou boa velocidade de leitura (93 MB/s), mas taxa de gravação sofrível, de 12 MB/s.

Isso é mais lento que o cartão de memória que utilizo num Galaxy S7 Edge, que atinge 15 MB/s de escrita (no armazenamento interno, a velocidade de gravação da memória flash da Samsung chega a 144 MB/s). O Vibe K5 decepciona mesmo em comparação com aparelhos da mesma categoria, como o LG K10 (55 MB/s) e o Quantum Go (41 MB/s).

O poder de processamento, portanto, fica limitado pelo armazenamento inconsistente. É como se você montasse um PC com Core i7-6700K e GeForce GTX Titan Z, mas HD de 5.400 RPM.

Depois que os games já foram carregados, o desempenho é decente. Em conjunto com a tela de 1920×1080 pixels, a Adreno 405 mostra seus limites ao lidar com títulos mais pesados, como Dead Trigger 2, que começa a apresentar quedas na taxa de frames com os gráficos no médio. No entanto, dá para dizer que você terá uma experiência razoável na maioria dos jogos.

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Minha unidade foi substituída, para ter certeza de que não se tratava de defeito de fabricação. O segundo aparelho apresentou os mesmos números e problemas de desempenho. Infelizmente, não dá para recomendar o Vibe K5 para usuários um pouquinho mais exigentes — ele oferece a performance que eu esperaria de um Moto E, não de um smartphone de mil reais.

Antes de continuar, uma atualização

Após a publicação deste review, consumidores relataram nos comentários que o problema da memória flash de baixo desempenho foi corrigido em novos lotes do Vibe K5. O leitor Tobias Mann (obrigado!), que comprou um aparelho lento e conseguiu trocá-lo por um novo, investigou o assunto e apontou que o principal gargalo não está presente no Vibe K5 a partir da semana 16, de meados de abril.

Procurada pelo Tecnoblog, a Motorola Brasil diz não ter recebido “relatos de travamento ou lentidão por parte dos usuários”. Questionada sobre os direitos dos consumidores que adquiriram um Vibe K5 de lote ruim, a empresa afirmou em nota que, “caso seja identificado algum problema”, o usuário deve “encaminhar o produto ao serviço de atendimento ao cliente ou rede de serviço autorizada para análise”.

Sem confirmação oficial dos lotes defeituosos do Vibe K5, o texto original da análise, bem como as notas do produto, foram mantidos.

Bateria

A bateria de 2.750 mAh tem capacidade acima da média da categoria, que oferece componentes de 2.470 mAh (Moto G de 3ª geração), 2.300 mAh (LG K10 e Quantum Go) ou até 2.200 mAh (Redmi 2 Pro), mas não impressiona pela autonomia, talvez pela resolução maior da tela, que demanda mais do processador gráfico e acaba zerando a vantagem numérica.

No meu dia de testes, tirei o Vibe K5 da tomada às 9 horas, escutei 2h de música por streaming no Spotify pelo 4G e naveguei por 1h30min, entre emails, redes sociais e páginas da web, também utilizando a rede 4G. A tela ficou ligada por exatamente 1h41min53s, sempre com brilho no automático. Às 20 horas, o indicador mostrava 35% de bateria restante.

Ou seja, apesar da bateria com capacidade maior, o Vibe K5 apresenta uma duração de bateria apenas compatível com a categoria. A maioria dos usuários não deverá precisar de uma carga antes do final do dia, desde que não exijam muito do aparelho.

Conclusão

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O Vibe K5 é um smartphone que tinha tudo para dar certo pela ficha de especificações, mas decepciona na prática. Os bons números da câmera são afetados por uma experiência lenta de fotografia. Os bons números da tela são ofuscados pelas cores descalibradas de fábrica, ainda que o problema seja corrigível via software. Os bons números no processador são prejudicados pelo baixo desempenho da memória, que causa lentidão em todo o sistema.

Devido aos problemas de desempenho do Vibe K5, fica difícil recomendá-lo como opção de compra. Não adianta muito ter uma autonomia decente de bateria e um processador potente se, na utilização diária, o smartphone gera tantas frustrações. Foi difícil ter o Vibe K5 como meu smartphone principal durante o período de testes, com as lentidões que apareciam nos momentos mais inesperados.

A leva de produtos acessíveis lançados em 2016 é a mais decepcionante em muito tempo na indústria de smartphones. Velhos conhecidos entre os aparelhos intermediários, o Moto G de 3ª geração (com 2 GB de RAM), o Quantum Go ou aparelhos que baixaram muito de preço nos últimos meses, como o Alcatel Onetouch Idol 3, todos lançados em 2015, ainda são opções melhores para quem não quer gastar muito dinheiro na compra de um novo celular.

Em tempos de dólar alto e falta de incentivos fiscais, a Lenovo tentou oferecer um bom conjunto por menos de mil reais, mas o Vibe K5 ainda não é a melhor resposta.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.750 mAh;
  • Câmera: 13 megapixels (traseira) e 5 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.1, USB 2.0, rádio FM;
  • Dimensões: 142 x 71 x 8 mm;
  • GPU: Adreno 405;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 32 GB;
  • Memória interna: 16 GB;
  • Memória RAM: 2 GB;
  • Peso: 142 gramas;
  • Plataforma: Android 5.1.1 (Lollipop);
  • Processador: octa-core Snapdragon 616 de 1,5 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, bússola, giroscópio;
  • Tela: TFT LCD de 5 polegadas com resolução de 1920×1080 pixels.

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Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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